Expediente

Júlio Gomes, fotógrafo

Jorge Cosmeeditor e repórter

Quando viajo pelas estradas, sou atravessado por uma inquietação com relação às vidas que não vivo. Vou me perguntando quem mora nessa casa na beira da estrada, quem vive naquela outra casinha escondida entre árvores, como é a vida aqui e acolá. E essa curiosidade também se estendia às cruzes que vão surgindo no canto da nossa vista em borrões. Ali, disfarçadas entre grama alta, na descida de uma curva ou onde deveria haver acostamento, elas pareciam querer me dizer algo. E eu pude finalmente parar para ouvir. Cada uma tem sua própria história, de amor, dor, negligência, fé e saudade. E quando as junto em coro, é como se dissessem “tem algo de errado acontecendo aqui”.

Marília Parente, repórter

Marília Parenterepórter

Rurbana, como diria Milton Santos, me constitui nas idas vindas entre litoral e sertão. Antes da jornalista, quem chegou à PE-177 foi uma criança com a testa enfiada no vidro do carro do avô, tentando ler os nomes grafados nas cruzes e memoriais em homenagem aos mortos da estrada. Quem eram aquelas pessoas? Para onde iam? O que estariam fazendo agora se, por um pequeno rearranjo na ordem dos acontecimentos, tivessem sobrevivido? À jornalista, cabe acrescentar a pergunta: que políticas públicas poderiam ter evitado tantos sinistros parecidos nos mesmos lugares?

Júlio Gomes, fotógrafo

Júlio Gomesfotógrafo

Todas as histórias são tristes. Você sente como se estivesse carregando um peso nas costas. Além do cansaço físico tem um cansaço emocional também. Então a gente consegue ter outra visão de vida, a gente sente a importância de valorizar a vida, valorizar a companhia de um parente, a companhia de um amigo. São coisas assim que têm importância. Eu não fazia ideia do quanto as estradas são perigosas. Eu espero que esse material traga consciência para as pessoas que utilizam essas estradas, que dirijam com atenção, não dirijam depois de ter bebido, isso é muito importante. É preciso ter cuidado, porque quem dirige tem que dirigir por si e pelo outro.

expediente_sergio souza, motorista

Sérgio Souzamotorista

No meu ponto de vista como motorista, dirigir pela PE-177 e PE-090 é muito perigoso. Não tem acostamento, não tem sinalização, muita curva e mato cobrindo a estrada. Eu e meus companheiros passamos por muito sufoco, porque tivemos que parar a quase 500 metros de algumas cruzes e eles ficaram voltando. Eu fiquei muito preocupado com eles na estrada, pois passamos por maus momentos. Nos trechos da estrada repletos de cruzes, a sensação era de muita tristeza, porque ali morreu muita vítima por falta de competência dos órgãos públicos. Digo aos meus companheiros motoristas: se puderem desviar da PE-177 e da PE-090, andem mais um pouco para não arriscar a vida de vocês. Tive medo.

Thiago Azuremwebdesigner

Como qualquer brasileiro, cresci observando cruzes na beira das estradas, e elas me traziam uma reflexão angustiante: "Poderia acontecer comigo". Essas cruzes são marcos, de vidas interrompidas e de famílias enlutadas, que crescem em meio ao mato alto em aparente esquecimento, mas às vezes adornadas ou cuidadas. O especial "Cruzes na Estrada", ao abordar tantas cruzes e histórias, mudou meu olhar sobre essas mortes, pois além de personificá-las, nos faz questionar sobre o descaso do estado e como tantas tragédias poderiam ser evitadas.

José Fernando Siqueiradesigner de logo